terça-feira, 2 de março de 2010

Intolerância Religiosa

Olá meus 10 leitores deste blog... rsrsrs... depois de alguns dias afastado das atividades virtuais, volto em 2010 com imensa vontade de me fazer mais presente neste veículo de informação e formador de opinião.
Quero registrar aqui minha preocupação a respeito de um tema que se torna a cada dia mais necessário discutir em nossa sociedade: a intolerância religiosa.
Recebi nesta semana um e-mail informando que o caso da professora que foi afastada da escola no município de Macaé, no Rio de Janeiro, ainda não foi resolvido. A professora trabalhava com o livro chamado "Lendas de Exu" do autor Adilson Martins, remomendado pelo Ministério da Educação.
No final de 2009, véspera da comemoração da Semana da Consciência Negra, em Taguatinga, Distrito Federal, o professor Francisco Albuquerque foi retirado da escola sob a acusação de que estava trabalhando rituais de Candomblé em sala de aula. Conheço de perto o trabalho do professor, fizemos cursos juntos sobre elementos da cultura afrobrasileira e chegamos a trabalhar com o projeto Africanidades nesta escola. Porém, o professor foi afastado de sua função sem direito a defesa e passou por diversos constrangimentos porque estava no cumprimento da Lei Federal 10.639/2003. Seu caso também até na data de hoje não foi resolvido.
Paro pra pensar e me pergunto: por que os professores, que cumprem seu papel, seu dever de ensinar a História e Cultura Africana têm que passar por estes tipos de constrangimentos? Onde estão as instituições do Estado e não-governamentais que não defendem aqueles que estão exercendo seu papel em sala de aula? Para que serve a comissão de Direitos Humanos da Câmara? Será que o Estado está preparado para fazer valer a Lei 10.639/03?
Em pleno século 21, o presidente da República teve que instituir o dia 21 de janeiro como o Dia do Combate contra à Intolerância Religiosa. Este dia foi escolhido por segmentos do movimento negro por causa da morte da Yalorixá Gildásia Santos do Ilê Axé Abassá de Ogum em 2000. A Yalorixá, conhecida como Gilda, teve seu terreiro invadido e destruído duas vezes por pessoas de outras crenças religiosas. Como se não bastasse, ela teve sua foto publicada em um jornal da Universal, com tarja preta nos olhos e uma matéria cujo título era "Macumbeiros Charlatães lesam a vida e o bolso dos clientes”. A foto foi tirada quando Gilda participou de uma manifestação em Salvador que pedia o impeachmant do Collor. Gilda teve um ataque fulminante do coração e faleceu no dia 21 de janeiro de 2000. O jornal foi condenado a pagar uma idenização a filha de Gilda de 960 mil Reais por danos morais, mas dinheiro nenhum no mundo paga a dor da perda e a dor da difamação.
O Combate à Intolerância Religiosa tem que ser feito todo santo dia. Na conversa com o vizinho, no ônibus, no salão de beleza, na feira, na fila do banco... em qualquer lugar onde estivermos. Nós professores temos uma responsabilidade maior, pois somos formadores de opinião.
Ensinar nossos alunos a respeitar outras crenças é ensinar a respeitar o que é diferente de nós. O que caracteriza o povo brasileiro é sua diversidade, pois nosso amado Brasil nasceu de matrizes culturais completamente diferentes uma das outras. Não podemos permitir que um discurso unilateral, raivoso e intolerante ganhe espaço e destrua nossa diversidade cultural.
Já dizia o sábio José Saramago:
"De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus”.
Grande abraço e Feliz 2010.

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