Olá meus 10 leitores deste blog... rsrsrs... depois de alguns dias afastado das atividades virtuais, volto em 2010 com imensa vontade de me fazer mais presente neste veículo de informação e formador de opinião.
Quero registrar aqui minha preocupação a respeito de um tema que se torna a cada dia mais necessário discutir em nossa sociedade: a intolerância religiosa.
Recebi nesta semana um e-mail informando que o caso da professora que foi afastada da escola no município de Macaé, no Rio de Janeiro, ainda não foi resolvido. A professora trabalhava com o livro chamado "Lendas de Exu" do autor Adilson Martins, remomendado pelo Ministério da Educação.
No final de 2009, véspera da comemoração da Semana da Consciência Negra, em Taguatinga, Distrito Federal, o professor Francisco Albuquerque foi retirado da escola sob a acusação de que estava trabalhando rituais de Candomblé em sala de aula. Conheço de perto o trabalho do professor, fizemos cursos juntos sobre elementos da cultura afrobrasileira e chegamos a trabalhar com o projeto Africanidades nesta escola. Porém, o professor foi afastado de sua função sem direito a defesa e passou por diversos constrangimentos porque estava no cumprimento da Lei Federal 10.639/2003. Seu caso também até na data de hoje não foi resolvido.
Paro pra pensar e me pergunto: por que os professores, que cumprem seu papel, seu dever de ensinar a História e Cultura Africana têm que passar por estes tipos de constrangimentos? Onde estão as instituições do Estado e não-governamentais que não defendem aqueles que estão exercendo seu papel em sala de aula? Para que serve a comissão de Direitos Humanos da Câmara? Será que o Estado está preparado para fazer valer a Lei 10.639/03?
Em pleno século 21, o presidente da República teve que instituir o dia 21 de janeiro como o Dia do Combate contra à Intolerância Religiosa. Este dia foi escolhido por segmentos do movimento negro por causa da morte da Yalorixá Gildásia Santos do Ilê Axé Abassá de Ogum em 2000. A Yalorixá, conhecida como Gilda, teve seu terreiro invadido e destruído duas vezes por pessoas de outras crenças religiosas. Como se não bastasse, ela teve sua foto publicada em um jornal da Universal, com tarja preta nos olhos e uma matéria cujo título era "Macumbeiros Charlatães lesam a vida e o bolso dos clientes”. A foto foi tirada quando Gilda participou de uma manifestação em Salvador que pedia o impeachmant do Collor. Gilda teve um ataque fulminante do coração e faleceu no dia 21 de janeiro de 2000. O jornal foi condenado a pagar uma idenização a filha de Gilda de 960 mil Reais por danos morais, mas dinheiro nenhum no mundo paga a dor da perda e a dor da difamação.
O Combate à Intolerância Religiosa tem que ser feito todo santo dia. Na conversa com o vizinho, no ônibus, no salão de beleza, na feira, na fila do banco... em qualquer lugar onde estivermos. Nós professores temos uma responsabilidade maior, pois somos formadores de opinião.
Ensinar nossos alunos a respeitar outras crenças é ensinar a respeitar o que é diferente de nós. O que caracteriza o povo brasileiro é sua diversidade, pois nosso amado Brasil nasceu de matrizes culturais completamente diferentes uma das outras. Não podemos permitir que um discurso unilateral, raivoso e intolerante ganhe espaço e destrua nossa diversidade cultural.
Já dizia o sábio José Saramago:
"De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus”.
Grande abraço e Feliz 2010.