segunda-feira, 12 de julho de 2010

Imposição estética

No mundo globalizado de hoje, manter as nossas raízes ainda vivas é mais do que um desafio, é uma necessidade para não perdermos nossa identidade.
As grandes multinacionais, instaladas em vários lugares do globo, ao venderem seus produtos, iguala todos na forma de vestir, no consumo da música, nos hábitos alimentares, nos hábitos cotidianos, pois instalam na sociedade uma necessidade compulsiva de consumir seus produtos que são nada mais do que cópias de modelos culturais dos países europeus e norte-americano.
No Brasil, nos deparamos com um grande número de pessoas que renegam a própria cultura brasileira para dar valor à estética imposta pelos países colonizadores. Tal atitude gera uma alienação cada vez mais crescente e ocasiona a morte de elementos culturais de nossas raízes.
Não pretendo aqui fazer um discurso xenófobo, muito pelo contrário, considero de extrema importância conhecermos a cultura estrangeira, mas infelizmente existe um número muito maior de brasileiros que ouvem Lady Gaga e nunca ouviram nada do maravilhoso Toquinho.
Este processo de imposição estética não é novidade. No Brasil colonial, os jesuítas, ao catequizarem os índios, nomeavam em suas peças teatrais os personagens ligados ao mal com nomes indígenas e os personagens bonzinhos com nomes cristãos. Ao se deparar com tal cena teatral, o que os índios começaram a acreditar? Que sua cultura era errada? Muitos se tornaram cristãos e abandonaram hábitos de sua etnia. Outros resistiram e fugiram mata adentro e ainda hoje tentam resistir a esta imposição global.
Os africanos sofreram o mesmo processo. Seus deuses foram considerados pela igreja como representantes demoníacos e ao serem trazidos para o Brasil, tinham que passar por um portão do esquecimento ou dar várias voltas em torno de uma árvore para esquecer seu passado, sua cultura, seus ancestrais. Mas ainda hoje estas tradições estão vivas e ainda resistem. Dizer que EXU é o demônio é persistir nesta colonização, nesta imposição de elementos estéticos para dominar ideologicamente a sociedade, pois quando todos pensam iguais é muito mais fácil dominar. Se formos estudar a mitologia yorubá, veremos que EXU não tem nada haver com o diabo cristão. Os portugueses talvez tenham associado a figura demoníaca ao deus yorubá por conta do seu caráter sexual, mas persistir ainda hoje neste erro é mais uma forma de destruir nossas raízes culturais, pois enquanto as pessoas associarem nossas raízes ao mal, mais elas irão abandoná-las e não correrão para dentro da mata para resistir a imposição estética.