Estou lendo um livro muito bom cujo título é "A formação do Candomblé" do pesquisador Luis Nicolau Parés. Peço licença ao autor para transcrever um trecho que li na página 95 que considero de extrema importância:
(...) os processsos de resistência cultural das minorias étnicas ou das classes subalternas, baseados na manutenção de valores e práticas culturais diferenciados daqueles da cultura dominante, oferecem mecanismos de luta àqueles indivíduos discriminados das esferas do poder. A resistência cultural responde, em primeira instância, à dinâmica mimética inerente a todo processo de aprendizado que acompanha a transferência cultural de uma geração para outra. O indivíduo tende, de uma forma natural, a repetir e reproduzir aqueles valores nos quais foram criados. A resistência cultural se baseia, ou enfatiza, o espírito gregário e conservador do ser humano. Mas, no contexto da luta de classes ou dos conflitos interétnicos, em que aos grupos marginalizados é negada a identificação com os valores do grupo hegemônico, a resistência cultural aparece como dinâmica de diferenciação, como mecanismo de auto-afirmação e defesa perante a ameaça da indiferenciação ou da invisibilidade, isto é, da alienação. A preservação ou reatualização periódica de elementos diferenciadores, na qual se baseia a construção da identidade étnica, constitui de algum modo uma arma política para os excluídos. No contexto dos africanos e dos afro-descendentes no Brasil, o campo da religião, das crenças e das práticas rituais associadas ao mundo invisível parece ter sido o domínio por excelência da resistência cultural."
PARÉS, Luis Nicolau. A formação do Candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia/Luis Nicolau Parés. _2ª ed. rev. _ Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2007.